Inquérito. Europeus inclinam-se para cenário de solução negociada da guerra na Ucrânia

por Carla Quirino - RTP
Área residencial em Dnipro, na Ucrânia, atingida por míssil russo Proteção Civil da Ucrânia via Reuters

O grupo de reflexão Conselho Europeu sobre Relações Externas realizou um inquérito a 15 países europeus sobre cenários de desfecho do conflito na Ucrânia. A maioria dos inquiridos manifesta forte apoio à causa ucraniana, mas acredita que o resultado mais provável terá como base um acordo negociado à mesa e não uma vitória no campo de batalha. Pela primeira vez, a população ucraniana também contribuiu para esta análise.

O grupo de reflexão pan-europeu que estuda estratégias, política externa e segurança europeia - European Council on Foreign Relations - auscultou 19.566 pessoas em 15 países, durante a primeira quinzena de maio. Nesta investigação, incluiu pela primeira vez residentes na Ucrânia.

O estudo deixa claro que a “determinação da Ucrânia em lutar e o apoio europeu ao armamento do país não foram afetados pelos avanços russos no campo de batalha”. Porém, “por trás da aparente unidade, há uma grande divisão entre a Ucrânia e a Europa sobre como essa guerra deve terminar e o que o apoio aliado está destinado a alcançar”.
Para os ucranianos
Apesar de circular uma ideia de enfraquecimento moral, os inquiridos ucranianos deixam claro que acreditam tanto na vitória como no presidente Volodymyr Zelensky. Perto de 34 por cento disseram que confiam “muito” no líder ucraniano, enquanto outros 31 por cento confiam “bastante”.

Sobre o resultado mais provável da guerra, 58 por cento dos ucranianos apontam uma vitória ucraniana. O estudo revela ainda que 30 por cento estimam que terminará com um acordo e apenas um por cento pensa que a Rússia vencerá o conflito.

Porém, a maioria prefere ceder território em vez de abandonar a soberania, definida pelo direito de se juntar à NATO e à União Europeia.
Mais armas?

Nos restantes 14 países europeus, o estudo sublinha que a Itália é o Estado menos favorável à Ucrânia. A contrastar está a Estónia, onde 38 por cento dos inquiridos revelam uma visão predominante de que a Ucrânia vencerá a guerra.

A Suécia e a Polónia entendem que a Europa deve ajudar a Ucrânia até que o território seja todo recuperado. Já a Itália, Grécia e Bulgária não concordam com essa estratégia e inclusive opõem-se ao aumento de fornecimento de armas à Ucrânia.

Os inquiridos na Chéquia, França, Alemanha, Países Baixos, Espanha e Suíça não apresentaram consenso nacional sobre a guerra e o papel da UE. De se destacar que nenhum país apoia o envio de tropas para a Ucrânia.

Mas no geral ainda há grandes maiorias que defendem o envio de mais armas para a Ucrânia, sobretudo para fortalecer a posição de Kiev à mesa das negociação.

Para 67 por cento de ucranianos, a necessidade de armas para se defenderem é essencial. O estudo releva ainda que setenta e cinco por cento dos ucranianos consideraram o papel da UE positivo e vêm a filiação da Ucrânia como necessária para vencer a guerra.
Apoio externo
O Reino Unido está em primeiro lugar no que toca ao país que mais apoio dá à Ucrânia, disseram 88 por cento dos ucranianos, que classificam a Grã-Bretanha como "muito ou principalmente confiável", seguida pela Lituânia com 77 por cento, embora a maioria dos países da lista tenha o carimbo de “confiável”.

Já para o outro lado do Atlântico a preocupação de um terço dos ucranianos prende-se com a possibilidade de Washington fechar um acordo de paz com Moscovo sem envolver Kiev.

Mark Leonard, coautor da investigação e diretor do CERE, explica: “A nossa nova análise sugere que um dos principais desafios para os líderes ocidentais será reconciliar as posições conflituosas entre europeus e ucranianos sobre como a guerra terminará”.

E acrescenta que “embora ambos os grupos reconheçam a necessidade de provisão militar contínua para ajudar a Ucrânia a reagir à agressão russa, há um profundo abismo em torno do que constitui uma vitória – e qual é o propósito real do apoio da Europa”.
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